Porque sou cristão!
Gottfried Wilhelm Von Leibniz nos
diz que a razão humana deve ser separada da faculdade de raciocinar para que
assim possa a segunda ser ferramenta da primeira na condução de sua boa
utilização evitando o mal. Assim, raciocinar nos leva a reflexões
contemplativas na busca pela verdade. Leibniz chama de “o encadeamento das
verdades” que só pode produzir verdades não podendo uma delas ser contrária a
outra. Ele retoma – propositadamente ou não – a filosofia de Aristóteles, que
serviu de base para o tomismo. E aqui, Santo Tomás de Aquino não se faz maior
por apresentar Deus em sentido filosófico, mas por ir além do argumento
ontológico para – por meio das cinco vias – racionalizar a hipótese (para mim,
verdade) inteligentíssima sem contrariar a revelação.
Logo, razão está a
serviço da revelação, pois o Deus exposto filosoficamente reforça a Fé diante
das provas de sua existência.
É que – como diz Leibniz - “há
dois labirintos do espírito humano: um respeita à composição do contínuo, o
outro à natureza da liberdade; e ambos têm origem no mesmo infinito.” Não temos
como evitar esta jornada na busca por sentido; e ela nos leva a labirintos onde
somos expostos às nossas fraquezas, a concupiscência e o mal. Ao respeitarmos a
composição do contínuo, mesmo diante da liberdade que nos é concedida,
enxergaremos que há um sentido nesta composição. Aquino o revela em suas vias.
Primeiro na ideia de que há um motor que tudo move – em ato contínuo – sem ser
movido. Não nos deparamos com sua face, mas pela arquitetura do universo, eis o
Amor de Deus. Para Leibniz, não éramos folhas em branco na busca de entender o
mundo.
Isto nos leva a “causa eficiente”
de Aquino. No mundo – dizia o Doutor Angélico – a razão nos leva a enxergar que
tudo tem uma causa eficiente, mas nada pode ser a causa eficiente de si mesmo,
e como não podemos proceder até o infinito na busca pelas causas eficientes das
coisas, há uma causa primeira que é Deus. Não há folha em branco. Se aliarmos
isto a noção do governo das coisas e/ou finalidade do ser, veremos que o ser
humano aponta para uma busca de verdade e sentido, busca uma religação. Por
isto, como é posto logo no início do Catecismo Católico, sempre houve um
pensamento religioso na humanidade mesmo quando não cristão. É de se acreditar
numa coincidência impossível que, na caminhada de busca por sentido, a razão
sempre se depare com algo para além dela, por se entender contingente e fruto
de algo que a cria.
Então, caros amigos, no mundo as
coisas operam em busca de um fim (finalidade do ser), há uma força necessária a
gerar tudo que é contingente que – pela natureza da consciência criada – deverá
ser mais inteligente que a própria consciência que cria. Ou é isto, ou
acreditaremos que toda coisa criada, em um mecanismo lógico ao ponto da ciência
definir leis para explicar a realidade, surge do nada. É uma possibilidade
abraçada por alguns. Não por mim.
Todavia, qual é a mais
inteligente: o resultado surgir do nada mesmo havendo uma equação que o cerca,
ou existir algo para além de nós que cria o que vemos e admiramos justamente
por sua arquitetura posta, como por exemplo, a dinâmica do universo, a origem
da vida, a leis da física, o princípio entrópico e por aí vai... como dizer que
a Fé é cega (no sentido de irracional)?
O estudo do tomismo me fez ver
isto. Mas não foi com ele que veio a Fé. Ele apenas apresentou uma hipótese
filosófica que aqui resumo de forma até imperfeita. O fato é que Santo Tomás de
Aquino diz mais sobre o mundo, à luz da razão, que qualquer niilista. Daí há –
evidentemente – um salto de Fé. Pois, a revelação não depende da razão ainda
que possa ser contemplada por ela. Deus se revelou. Logo, só depende/dependeu
Dele. Nisto sempre há de existir mistérios insondáveis à razão humana.
Todavia,
a Fé não é cega. Afinal, associada à filosofia de Aquino estão todos os
testemunhos, evidências, milagres, profecias, e a própria História de Nosso
Senhor Jesus Cristo e da Igreja.
O estudo profundo de cada um
desses elementos nos leva a uma compreensão maior. Saímos de um Deus em sentido
filosófico para a compreensão de um Deus cristão. É isto que militantes ateus
como Richard Dawkins não levam em conta. Dawkins cria um Deus em que nivela
religiões e compreensões, despreza a metafísica e a filosofia para atacar um
“deus” que de fato não existe. O “deus” que Dawkins atribui aos cristãos não é
o Deus no qual os cristãos acreditam. A revelação que nos é concedida não é
dissociada da razão, mas busca sempre – por meio do exercício desta – uma
cosmovisão na qual se apóia, inclusive, a dogmática. Sim, são revelações, mas o
que está posto é compreensível. Falarei mais sobre isto em textos vindouros.
Quem se dedicar à leitura do
Catecismo da Igreja Católica verá que um dos primeiros questionamentos
presentes é “O que significa crer?”. Ali, a busca é por uma resposta precisa
que não abandona a reflexão. “A fé é a resposta do homem a Deus que se revela e
a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca
do sentido último de sua vida”. Ora, qual existência não traz em si tal
questionamento? A resposta que será dada a ele é outra história. A resposta da
Igreja, que é o que percebi ao longo dos estudos, traz uma verdade: o sentido
está impresso no homem, escrito no homem...é o que Leibniz colocava ao dizer
que “não somos folhas em branco”. Afinal, como diz a Igreja o homem não cessa
de procurar a verdade e a felicidade. Aristóteles também disse isto em seus
escritos e por isto a importância da metafísica que muitos teimam em assassinar
por meio do relativismo.
Aristóteles não era cristão!
A Igreja – entretanto – nos
convida a pensar em vias e nos apresenta a proposta ao pensar no mundo “a
partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo
(trecho do Catecismo), que condiz com que expõe São Paulo: “o que se pode conhecer
de Deus é manifesto entre eles (os pagãos), pois Deus lho revelou”. Não por
acaso, é citado Santo Agostinho: "Interroga a beleza da terra, interroga a
beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a
beleza do céu... interroga todas estas realidades. Todas elas te respondem:
olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor (confessio). Essas
belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo (Pulcher, pronuncie
"púlquer"), não sujeito à mudança?".
Ora, tal ordenamento se depara
com a nossa liberdade de questionar a existência do Ordenador. Nossa razão nos
leva a isto independente de crermos ou não. Diante de tal ordenamento, o
trabalho de Aquino foi mostrar as vias que desnudam – já que nossa razão
compreende a relação entre criatura e criador – uma causa primeira que também é
fim último. A isto damos o nome de Deus. O salto para a Fé é compreender como o
Criador pode ser pessoal. Eis aqui a História, meus amigos, e a assinatura de
Deus no contínuo. Para negar isto precisamos negar que ele se revelou no meio
de nós com o que antecedeu Cristo e com o que O sucedeu. Leiam, por exemplo, o
que é posto na aparição de Nossa Senhora de La Sallete. O relato preciso –
desde as guerras aos péssimos livros que abundarão o mundo – de forma
transcendente será ignorado mesmo tendo acertado de forma cirúrgica as cores da
pintura do mundo no qual estamos hoje? Eu não consigo ignorar isto.
Difícil colocar todas as evidências e falar
sobre revelação em um único artigo, mas nossa caminhada aqui tende a ser longa.
Outros textos virão. Que Nosso Senhor Jesus Cristo abençoe a todos vocês e me
ajude neste compromisso que assumi, pois se aqui estou devo a Ele e meu
compromisso é com esta VERDADE.
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