O discurso do Pão da Vida, Jesus anuncia o mistério eucarístico
“Pois minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida”
O discurso de
Jesus que especialmente sempre me intrigou, inicialmente pela dureza das
palavras, foi o discurso do Pão da Vida (Jo 6). Sempre que ouvia a pergunta de
Jesus aos Doze após as palavras duras, “não quereis vós também partir?”,
percebia que o que Ele tinha acabado de declarar era o cerne de sua vinda. Eram
palavras que não poderiam ser retiradas, não poderiam ser rejeitadas por
aqueles que decidissem o seguir.
Quando
comecei a me interessar mais pela liturgia e adentrar profundamente no mistério
da Sagrada Eucaristia, percebi que Jesus já anunciava daí o fruto da Nova e
Eterna Aliança, mesmo sem que entendessem.
Vejamos,
voltemos à travessia dos hebreus no deserto por 40 anos depois de terem sido
libertados da escravidão do Egito por Moisés. Quando isso aconteceu, o Senhor
Deus instituiu uma festa para celebrar essa travessia, a Páscoa (passagem). Todos
os anos, se tomaria um cordeiro por família que seria imolado e comido no dia
da Páscoa, em uma ceia, junto com pães Ázimos. Esta é a festa perpétua
instituída por Deus para o povo hebreu se lembrar de que fora escravo no Egito,
mas hoje é livre pela misericórdia divina. Nesse período de passagem,
entretanto, o povo se revoltou, pois não tinha o que comer. Mas, mais uma vez,
Deus providenciou o que era necessário para o seu povo. Fez aparecer no deserto
pão todos os dias, o qual eles chamaram de maná.
Quando Jesus
está no meio de seu discurso do pão da vida, Ele faz referência ao maná no
deserto. A multidão que ouvia Jesus estava curiosa (inicialmente), querendo
saber qual era a obra de Jesus para que eles acreditassem, pois seguiam a Lei
vinda dos pais, que comeram do maná do deserto. Então, ele joga essa verdade:
os vossos pais comeram do maná do deserto, entretanto, estão todos mortos!
Jesus queria fazer entender que o pão que foi dado por Deus não era a promessa
de vida eterna, essa promessa viria apenas com a Nova Aliança.
Jesus
anuncia, então, que Deus dará o pão do céu, o pão que desce do céu e dá vida ao
mundo. O povo respondeu com a indagação mais lógica a ser feita nesse momento,
“Senhor, dá-nos sempre deste pão!”. A partir daí, as coisas começam a ficar
mais sérias, pois Jesus diz o centro do mistério eucarístico: Eu sou o pão da
vida. É de se esperar que ninguém entenda nada dessas palavras, e Jesus faz
questão de não explicar, tanto porque não era a hora, como porque acreditar
seria, inclusive, uma prova de confiança cega na sua misericórdia (prova que será
dada logo mais por Pedro). Os judeus começaram a murmurar contra Jesus por
causa das palavras proferidas, eles já procuravam um motivo de condenação,
então, qualquer sinal de blasfêmia já era motivo para indignação. E Jesus tinha
acabado de cair por terra com o ensinamento sobre o maná do deserto, e ainda
tinha se colocado em um lugar superior, afirmando ser Ele próprio o pão que
desceu do céu.
Jesus ainda
vai mais longe, diz logo como é esse pão (Ele) que desceu do céu: “O pão que eu
darei é a minha carne para a vida do mundo.” E mais “se não comerdes a carne do
Filho do Homem e não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós.” Pronto,
não há mais volta, o mistério eucarístico foi anunciado. É claro que ninguém compreendeu
essas palavras incisivas de Jesus – que, por acaso, foram repetidas quatro
vezes – e, por isso, muitos deixaram de o seguir, pois acharam as palavras
muito duras para serem ouvidas e acolhidas.
Jesus não
explica nada. Ele sabe que não é a hora, mas cobra confiança dos Doze, “não
quereis também vós partir?”. Jesus sabia que não podia voltar atrás com essas
palavras, mesmo que custasse o abandono de seus apóstolos. Mas Pedro, cheio do
Espírito Santo, confessa com sinceridade “Senhor, a quem iremos? Tens palavras
de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que és o Santo de Deus.”
Vamos
adiantar um pouco a história para os últimos momentos de Jesus antes de sua
paixão e morte. Jesus, como bom judeu, iria celebrar a páscoa judaica, a festa
dos Ázimos, com imolação do cordeiro, lembrança da libertação da escravidão do
Egito. Nesse ano, entretanto, Jesus sabia que havia chegado sua hora, e decide
antecipar a ceia de Páscoa para a quinta feira, sabendo o que se sucederia na
sexta feira. Nessa última ceia com seus discípulos, Jesus deixa tudo às claras.
Ele explica o que quis dizer em seu discurso do pão da vida quando disse “eu
sou o pão da vida, e esse pão é a minha carne”. Jesus toma o pão, toma o vinho
– presente na ceia por ser sinal de alegria para os judeus -, abençoa-os e profere as palavras explicativas do
mistério: “isto é o meu corpo, isto é o meu sangue”. Pronto, tudo está
explicado, o pão da vida se transubstancia em carne de cristo, carne do
cordeiro imolado, o cordeiro que agora é Jesus. Ele que se entrega por seu povo
em sinal da nova e eterna aliança. Jesus antecipa seu sacrifício na cruz que
acontecerá no dia seguinte para dar um novo sentido à Páscoa. Agora, há uma
nova passagem, a passagem de Jesus, Páscoa de nosso Senhor.
Está
instituída a eucaristia, entretanto, Jesus necessita ainda dar mais um mandato:
que esse sacrifício se perpetue eternamente, para todas as gerações, para todos
os povos. “Fazei isto em memória de mim” – anamnese – (tornar presente). Todas
as vezes que se diz essas palavras, que se executa esse rito, o sacrifício
eterno de Jesus se torna presente, o pão e o vinho se tornam novamente corpo e
sangue, para que todos tenham vida.
Ei, sinceramente,
tem que ser muito cego para não acreditar na eucaristia.
Rafaela Carnauba
Católica, batizada, crismada e consagrada a Jesus pelas mãos de Maria. É vocacionada da Comunidade Católica Shalom. Além de ser estudante de Odontologia da Universidade Federal de Alagoas.
Excelente.Que Deus te de sempre sabedoria
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